quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Ao poeta

70. No ano em que nasceu Adolfo Correia da Rocha, no dia em que passam doze anso sobre a morte de Miguel Torga, aqui fica uma homenagem.


Aos Poetas

Somos nós
As humanas cigarras!
Nós,
Desde os tempos de Esopo conhecidos.
Nós,
Preguiçosos insectos perseguidos.
Somos nós os ridículos comparsas
Da fábula burguesa da formiga.
Nós, a tribo faminta de ciganos
Que se abriga
Ao luar.
Nós, que nunca passamos
A passar!...

Somos nós, e só nós podemos ter
Asas sonoras,
Asas que em certas horas
Palpitam,
Asas que morrem, mas que ressuscitam
Da sepultura!
E que da planura
Da seara
Erguem a um campo de maior altura
A mão que só altura semeara.

Por isso a vós, Poetas, eu levanto
A taça fraternal deste meu canto,
E bebo em vossa honra o doce vinho
Da amizade e da paz!
Vinho que não é meu,
mas sim do mosto que a beleza traz!

E vos digo e conjuro que canteis!
Que sejais menestreis
De uma gesta de amor universal!
Duma epopeia que não tenha reis,
Mas homens de tamanho natural!
Homens de toda a terra sem fronteiras!
De todos os feitios e maneiras,
Da cor que o sol lhes deu à flor da pele!
Crias de Adão e Eva verdadeiras!
Homens da torre de Babel!

Homens do dia a dia
Que levantem paredes de ilusão!
Homens de pés no chão,
Que se calcem de sonho e de poesia
Pela graça infantil da vossa mão!

3 comentários:

Acácio Simões disse...

Tive o grato prazer de ser,por ele,chamado de amigo.
Quando dizia: " Ah! esses papéis se não fossem os amigos Martins e SimÕes..."

Nuno Castela Canilho disse...

Teria muita curiosidade em saber mais sobre essa relação. Como o conheceu, como era ele no trato, do que dizia nas conversas informais...

Acácio Simões disse...

naquele tempo havia o chamado imposto complementar e todos sabemos a aversão que os poetas e não só têem a esses papéis de modo que lá aparecia ao balcão da praça 8 de maio onde estive por longos dezassete anos e ...foi assim !
Afável no trato, bom conversador, oferecia livros cá ao rapaz mas autografados...! nem pensar???