Somos Uma Nação Que Se Regenera
«Que somos nós hoje? Uma nação que tende a regenerar-se. Diremos mais: que se regenera. Regenera-se, porque se repreende a si própria; porque se revolve no lodaçal onde dormia tranquila; porque se irrita da sua decadência, e já não sorri sem vergonha ao insultar de estranhos; porque principia, enfim, a reconhecer que o trabalho não desonra, e vai esquecendo as visagens senhoris de fidalga. Deixai passar essas paixões pequenas e más que combatem na arena política, deixai flutuar à luz do sol na superfície da sociedade esses corações cancerosos que aí vedes; deixai erguerem-se, tombar, despedaçarem-se essas vagas encontradas e confusas das opiniões! Tudo isto acontece quando se agita o oceano; e o mar do povo agita-se debaixo da sua superfície. O sargaço imundo, a escuma fétida e turva hão-de desparecer. Um dia o oceano popular será grandioso, puro e sereno como saiu das mãos de Deus. A tempestade é a precusora da bonança. O lago asfaltite, o Mar Morto, esse é que não tem procelas. O nosso estrebuchar, muitas veze colérico, muitas mais mentecapto e ridículo, prova que a Europa se enganava quando cria que esta nobre terra do último ocidente era o cemitério de uma nação cadáver. Vivemos: e ainda que semelhante viver seja o delírio febril de moribundo, esta situação violenta, aos olhos dos que sabem ver, é uma crise de salvação, posto que dolorosa, e lenta. Confiemos e esperemos: o nome português não foi riscado do livro dos eternos destinos. »
Alexandre Herculano, in "Duas Épocas e Dois Monumentos (Questões Públicas - 1843)" - encontrado em www.citador.pt
3 comentários:
UM AMBIENTE RANÇOSO
Eram sete da tarde quando me sentei no muro sobranceiro ás antigas estufas e á antiga estação dos correios do Buçaco, mesmo em frente á velhinha oliveira de Wellington onde, diz a lenda, o general prendeu a cavalgadura para descansar umas horas na melhor cela dos frades. O sol preparava o fim da tarde com um crepúsculo vermelho escondido atrás das copas e só aquele agressivo cheiro a ranço incomodava a límpida atmosfera que emanava harmonia e adivinhava bom tempo.
O casal de suecos perguntou-me ingenuamente se aquele cheiro horroroso provinha de alguma espécie vegetal existente na mata ou de alguma lixeira próxima. --Não, respondi macarronicamente, é o cheiro do azeite duma fabriqueta de ranço ali no sopé da serra. Perguntaram-me o caminho para Coimbra, entraram num carrão volvo estacionado ali mesmo e foram-se com um aceno.
Três cães excitados, daqueles que passam o verão ás sopas do hotel incomodando os hóspedes, passaram de nariz no ar a farejar o cheiro a molho estragado que se expandia, na esperança de algum osso para lhe fazer companhia. Foram-se abanando o rabo e de pescoço esticado lambendo no vazio sem saberem o quê. O resto era silêncio como no tempo dos frades em hora de orações mas não se ouviu o sino do mosteiro nem a sineta esganiçada das ermidas da floresta na chamada geral crepuscular.
Desci ao Luso com o objectivo de analisar o ranço junto ás termas e sentei-me num banco de madeira debruçado no lago. O ranço era ainda mais agressivo e forte. Na realidade o ar que se respirava estava saturado de gordura, não daquele aroma delicioso que acompanha o azeite nas batatas com bacalhau, mas dum pestilento odor, não sei se atentatório da saúde de cada um, mas algo insuportável, nauseabundo, enjoativo e doentio. E faltam-me adjectivos para continuar! Era pois uma questão tridimensional e não apenas coisa de altitude! O cheiro , ao contrário da gravidade, espalhava-se e subia…
Neste mini clima que ora avança e recua ao sabor dos ventos vegeta o Luso e o Buçaco, a Vacariça, ás vezes a Mealhada e não sei se mais localidades deste mini município. Podia ser mini no território e grande nas ideias. Mas não é, é mini nas duas dimensões. Se assim não fosse, este rançoso ranço que corre com as pessoas como o diabo foge da cruz, teria terminado. Mas não, não há autoridade municipal, nem distrital, nem ministerial, nem governamental que consiga acabar com estes cheiros dos restos dos azeites ou obrigue a fabriqueta que lhe dá origem a respeitar o ambiente. É que o incumprimento das leis tem muita força e o laxismo nacional, ainda muito mais.
Contrariamente, como é que um tribunal condena uma velhota de setenta anos por roubar ao lidl três euros e noventa e nove cêntimos em cremes de beleza? Risolândia, brincolândia …??? Paradoxos !
Todos os dias se fala pois na defesa do ambiente, mas na prática prevalece o laxismo onde tudo navega sem cartas e sem leme e, neste laxismo dos nossos brandos costumes se cozem coisas como o deficit, as reformas principescas, os apitos doirados, as universidades independentes, os albertojoões, etc., etc., etc.… Será preciso um diploma dum primeiro-ministro para saber que as universidades privadas são o que são? É preciso conhecimento de cátedra para saber que apitos doirados, casas pias e outros megas processos vão acabar sem resposta? Será preciso ser ingénuo para crer que os políticos vão deixar de saltitar entre administrações e cargos?
Uma coisa é o espectáculo politico levado ás raias absurdas dos objectivos pessoais, outra coisa é o país real que assiste impotente e resignado á tragédia dos seus dias. Desiludido, sem crença, eternamente a caminho dos últimos índices da Europa. Esta semana, todas as semanas… O primeiro no deficit, o último em crescimento, como é ????
Voltando ao ranço, chamava-se assim noutros tempos, li algures que o ranço tinha acabado ou ia acabar. Já devo até ter lido várias vezes. Numa delas, era a autarquia câmara que o dizia num jornal ou num boletim. Parece que o responsável político teria “caído” sobre a empresa tipo ‘golpe de mão’ no bom sentido tudo leva a crer e tinha verificado que o cheiro acabara ou estava em vias de acabar com a instalação duma nova maquinaria de filtragem. -Está á vista! Quanta ingenuidade anda por aí, ou parece que anda, á sombra da gamela politica!
Será este o ambiente de qualidade que nos está destinado. Macabro!!!
E será assim que se atraiem as pessoas para visitar o concelho?
Mealhadatemas.blog.com
UM AMBIENTE RANÇOSO
Eram sete da tarde quando me sentei no muro sobranceiro ás antigas estufas e á antiga estação dos correios do Buçaco, mesmo em frente á velhinha oliveira de Wellington onde, diz a lenda, o general prendeu a cavalgadura para descansar umas horas na melhor cela dos frades. O sol preparava o fim da tarde com um crepúsculo vermelho escondido atrás das copas e só aquele agressivo cheiro a ranço incomodava a límpida atmosfera que emanava harmonia e adivinhava bom tempo.
O casal de suecos perguntou-me ingenuamente se aquele cheiro horroroso provinha de alguma espécie vegetal existente na mata ou de alguma lixeira próxima. --Não, respondi macarronicamente, é o cheiro do azeite duma fabriqueta de ranço ali no sopé da serra. Perguntaram-me o caminho para Coimbra, entraram num carrão volvo estacionado ali mesmo e foram-se com um aceno.
Três cães excitados, daqueles que passam o verão ás sopas do hotel incomodando os hóspedes, passaram de nariz no ar a farejar o cheiro a molho estragado que se expandia, na esperança de algum osso para lhe fazer companhia. Foram-se abanando o rabo e de pescoço esticado lambendo no vazio sem saberem o quê. O resto era silêncio como no tempo dos frades em hora de orações mas não se ouviu o sino do mosteiro nem a sineta esganiçada das ermidas da floresta na chamada geral crepuscular.
Desci ao Luso com o objectivo de analisar o ranço junto ás termas e sentei-me num banco de madeira debruçado no lago. O ranço era ainda mais agressivo e forte. Na realidade o ar que se respirava estava saturado de gordura, não daquele aroma delicioso que acompanha o azeite nas batatas com bacalhau, mas dum pestilento odor, não sei se atentatório da saúde de cada um, mas algo insuportável, nauseabundo, enjoativo e doentio. E faltam-me adjectivos para continuar! Era pois uma questão tridimensional e não apenas coisa de altitude! O cheiro , ao contrário da gravidade, espalhava-se e subia…
Neste mini clima que ora avança e recua ao sabor dos ventos vegeta o Luso e o Buçaco, a Vacariça, ás vezes a Mealhada e não sei se mais localidades deste mini município. Podia ser mini no território e grande nas ideias. Mas não é, é mini nas duas dimensões. Se assim não fosse, este rançoso ranço que corre com as pessoas como o diabo foge da cruz, teria terminado. Mas não, não há autoridade municipal, nem distrital, nem ministerial, nem governamental que consiga acabar com estes cheiros dos restos dos azeites ou obrigue a fabriqueta que lhe dá origem a respeitar o ambiente. É que o incumprimento das leis tem muita força e o laxismo nacional, ainda muito mais.
Contrariamente, como é que um tribunal condena uma velhota de setenta anos por roubar ao lidl três euros e noventa e nove cêntimos em cremes de beleza? Risolândia, brincolândia …??? Paradoxos !
Todos os dias se fala pois na defesa do ambiente, mas na prática prevalece o laxismo onde tudo navega sem cartas e sem leme e, neste laxismo dos nossos brandos costumes se cozem coisas como o deficit, as reformas principescas, os apitos doirados, as universidades independentes, os albertojoões, etc., etc., etc.… Será preciso um diploma dum primeiro-ministro para saber que as universidades privadas são o que são? É preciso conhecimento de cátedra para saber que apitos doirados, casas pias e outros megas processos vão acabar sem resposta? Será preciso ser ingénuo para crer que os políticos vão deixar de saltitar entre administrações e cargos?
Uma coisa é o espectáculo politico levado ás raias absurdas dos objectivos pessoais, outra coisa é o país real que assiste impotente e resignado á tragédia dos seus dias. Desiludido, sem crença, eternamente a caminho dos últimos índices da Europa. Esta semana, todas as semanas… O primeiro no deficit, o último em crescimento, como é ????
Voltando ao ranço, chamava-se assim noutros tempos, li algures que o ranço tinha acabado ou ia acabar. Já devo até ter lido várias vezes. Numa delas, era a autarquia câmara que o dizia num jornal ou num boletim. Parece que o responsável político teria “caído” sobre a empresa tipo ‘golpe de mão’ no bom sentido tudo leva a crer e tinha verificado que o cheiro acabara ou estava em vias de acabar com a instalação duma nova maquinaria de filtragem. -Está á vista! Quanta ingenuidade anda por aí, ou parece que anda, á sombra da gamela politica!
Será este o ambiente de qualidade que nos está destinado. Macabro!!!
E será assim que se atraiem as pessoas para visitar o concelho?
Mealhadatemas.blog.com
Um tipo rançoso...
Enviar um comentário