quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Mercurii dies

[246.]
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A Democracia Política Conduz à Ineficiência e Fraqueza de Direcção
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«Os defeitos da democracia política como sistema de governo são tão óbvios, e têm sido tantas vezes catalogados, que não preciso mais do que resumi-los aqui. A democracia política foi criticada porque conduz à ineficiência e fraqueza de direcção, porque permite aos homens menos desejáveis obter o poder, porque fomenta a corrupção. A ineficiência e fraqueza da democracia política tornam-se mais aparentes nos momentos de crise, quando é preciso tomar e cumprir decisões rapidamente. Averiguar e registar os desejos de muitos milhões de eleitores em poucas horas é uma impossibilidade física. Segue-se, portanto, que, numa crise, uma de duas coisas tem de acontecer:
ou os governantes decidem apresentar o facto consumado da sua decisão aos eleitores - em cujo caso todo o princípio da democracia política terá sido tratado com o desprezo que em circunstâncias críticas ela merece; ou então o povo é consultaado e perde-se tempo, frequentemente, com consequências fatais. Durante a guerra todos os beligerantes adoptaram o primeiro caminho. A democracia política foi em toda a parte temporariamente abolida. Um sistema de governo que necessita ser abolido todas as vezes que surge um perigo, dificilmente se pode descrever como um sistema perfeito. Aldous Huxley, in 'Sobre a Democracia e Outros Estudos'
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Apenas para reflexão...

3 comentários:

lua-de-mel-lua-de-fel disse...

Se calhar pelo contrário, cada vez mais governar em democracia está longe da metáfora do grande homem do leme que leva o povo a bom porto. Vir com esta ideia de liderança governativa nas democracias que temos só tem dado os disparates que vemos. Governar, hoje, significa antes de tudo mais, saber que se governa na pura contingência. Daí a necessidade da discussão política racional, do debate de ideias, desse grande saco conceptual onde parece tudo caber: a cidadania.

Nuno Castela Canilho disse...

Cara Lua,
A liderança governativa é uma contingência democrática. A democracia exige uma responsabilização colectiva, dos votantes e dos votados. Os eleitos têm de proporcionar um exercício de prestação de contas a que se poderia chamar de "dar a cara". A metáfora do homem do leme estará esgotada se entendermos que (já) não há homens providenciais, mas o exercício político, agora indexado a taxas de positivismo e optimismo, tem de ser cada vez mais personalizado. Admitir que só se pode governar "na pura contingência", para além do desbaratar ideológico pode evidenciar um pragamatismo abominável.

lua-de-mel-lua-de-fel disse...

Caro Canilho, a verdade é os grandes sistemas ideológicos já não existem, sobretudo se pensarmos em direita e esquerda. Os discursos misturaram-se e perderam a sua identidade tradicional. Se há ideais, claro.
O texto do post leva-nos a pensar a fragilidade da democracia, que têm de ser suspensa quando é preciso tomar decisões fundamentais em contextos extremos. Quer mais pragmatismo abominável que isto?
Quando em falo da contingência da democracia, não falo, obviamente, da eleição, mas no processo todo que lhe subjaz. Repare que é por ainda acreditarmos que existem salvadores da pátria que quem se apresenta disposto a governar faz promessas que quase nunca pode cumprir. Falta de honestinade, dirão alguns; falta de competência, dirão outros. No entanto, a verdade é que se lhe aparecer um líder com um bom projecto e lhe diga "vamos tentar fazer x e y, mas tal depende das condições z e q " perde as eleições. Não é a democracia, no seu processo eleitoral que é contingente, é o mundo! As pessoas, a realidade social, a economia, etc., etc.. E o bom líder´é aquele que consegue adaptar o seu projecto e os seus objectivos a essa constante mudança do real. E é por isso, e aqui concordamos, que votar em partidos apenas porque é a cor que gostamos é ainda mais idiota.
E, antes que me ataque dizendo que o que estou a dizer pode legitimar a incompetência dos políticos, digo-lhe já que não se trata disso, mas pelo contrário, exigir projectos, debater ideias e ideais, dissecar argumentos e objectivos de um projecto político pela comunidade civil obriga a uma maior competência dos políticos, porque deixam de ter a desculpa de que, apesar do prometido, da salvação que prometeram, as condições não permitiram e estão a fazer o melhor que podem; duas desculpas que não suporto e parece que servem para legitimar tudo e mais alguma coisa. repetindo-me: se se pensar a gorvernação não como salvação mas como projecto num mundo contingente não se fazem promessas tolas que levam a estas desculpas, à repetição dos mesmos erros e não levam ao descrédito da política. Infelizmente, a nossa "democracia" está dividida entre os que têm sede de poder pelo poder e os que esperam que alguém os salve. Eis o resultado.