quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Iovis dies

[430.]

Dante e Virgílio no Inferno

Bouguereau (1825-1905)

O poeta romano Virgilio é o cicerone de Dante Alighieri na sua visita ao Inferno. Nas margens do Aqueronte presenciam a cena.

1 comentário:

Anónimo disse...

DANTE

Pelo divino horror de um desespero eterno
e pelo ardor febril a que a alma nos conduz,
florindo para o azul, irrompendo do inferno,
Dante evoca um abismo onde há lírios de luz.

Cada verso revela um fundo imenso de erma
tristeza em que uma voz alucinada clama:
e ora, inútil recorda a asa de uma águia enferma,
ora a ascensão brutal de uma língua de chama.

Dá-me, agora, o terror de uma visão que assombra.
Torvo, Ugolino sofre a sua fome atroz;
tem Virgílio a expressão sagrada de uma Sombra;
uiva um blasfemo! E a selva é lúgubre e feroz.

Lembra, após, o esplendor pesadelar de um sonho
magnífico e sangrento, em que anjos maus esvoaçam,
quando por mim, à flor do turbilhão tristonho,
enlaçados e nus, Paolo e Francesca passam...

Dante! — Quero-o, porém, mais doloroso e terno,
mais humano, a compor, torturado e feliz,
sob a angústia mortal do seu secreto inferno,
uma canção de amor em louvor de Beatriz!

Um poema de Eduardo Guimaraens publicado no livro A Divina Quimera (1916)