quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Mercurii dies

[422.]

África I

África foi, durante dois dias, o tema central de debate, nos mais variados fóruns, a pretexto da cimeira entre os chefes de Estado e de Governo dos países da União Europeia e da União Africana que se realizou em Lisboa em 8 e 9 deste mês de Dezembro. O problema do conflito no território sudanês do Darfur, o regime de Robert Mugabe no Zimbabué e as declarações do presidente da Líbia, Kadafi, a propósito do ‘legado’ colonialista europeu em África foram discutidos um pouco por todo o lado — provavelmente mais fora da cimeira do que no interior. No entanto, ao que parece, nenhum líder europeu fugiu destes assuntos. Os líderes africanos e europeus juntaram-se em Lisboa, durante reduzido tempo, e retornaram às suas terras. O que terá ficado de importante para o futuro das relações diplomáticas entre estes dois continentes?
Ficará, para consumo interno europeu, a ideia de um grande sucesso, que a ausência do primeiro-ministro britânico não ensombrou. Terá ficado, também, já aqui a enunciáramos, a ideia de que Portugal é uma ponte e um ponto de apoio fundamental para a afirmação da União Europeia, em termos geoestratégicos, como bloco importante na geopolítica do século XXI. Em seis meses de presidência portuguesa, estabeleceram-se relevantes elos entre a Europa e o Brasil, a China, a Índia e, agora, a África, toda ela. Os Estados Unidos da América, a potência hegemónica da actualidade, nunca conseguiram, nem conseguirão nos próximos anos, estabelecer semelhantes ligações.
Muitos portugueses dirão que a cimeira — esta como as outras — foi um desperdício de dinheiro. Terão sido gastos, pelo Governo português, aproximadamente dez milhões de euros. A diplomacia poderá não ser a área da governação que mais dividendos traz em termos económicos, mas acreditamos que, apesar disso, se trata de um investimento. Muitos líderes africanos não estariam à espera que a firmeza do Governo de Portugal, na vontade de realizar esta cimeira, fosse suficiente para que a ideia da sua realização se tornasse realidade. E, segundo o que terão dito, eles ficaram com uma imagem bem diferente da que tinham do nosso país. Portugal põe, assim, um ponto final nalgum complexo colonial e apresenta-se como um parceiro estratégico e económico em África, toda ela, e já nem só a portuguesa.
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in Editorial do Jornal da Mealhada de 12.12.07

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