quarta-feira, 2 de abril de 2008

Mercurii dies

[482.]
E agora?

A Sociedade da Água de Luso (SAL) apresentou no dia 31 de Março, segunda-feira, o parceiro que escolheu para a gestão e desenvolvimento das Termas de Luso, concessão que a SAL detém juntamente com a exploração da água. Segundo declarou à imprensa Alberto da Ponte, presidente do conselho de administração da SAL, manifestaram-se dispostas a fazer parte desta parceria vinte empresas e desse lote foi escolhido a Malo Clinic Health Group (MCHG), grupo empresarial português, líder mundial em saúde oral, proprietário da maior clínica dentária da Europa, em Lisboa, e da maior da Ásia, em Macau, que, há cerca de ano e meio, decidiu investir em SPA (saúde pela água) e no mercado da cosmética — tendo já os maiores SPA médicos do mundo, da Europa e da Ásia e o segundo maior dos Estados Unidos da América. Em sessão pública, no casino do Luso, na tarde do último dia do último prazo estabelecido para a apresentação do parceiro e, consequentemente, da definição do que pretendia para as Termas de Luso, a SAL anunciou que constituirá com a MCHG uma sociedade, em que terá quarenta e nove por cento do capital, e que essa sociedade investirá três milhões de euros num complexo de SPA médico, que ocupará cerca de mil e quatrocentos metros quadrados, no espaço onde hoje estão instaladas as Termas, a fisioterapia e o casino.
Alberto da Ponte e Paulo Maló, presidente da MCHG, comprometeram-se, dando, aliás, a palavra de honra, a, dentro de dezoito meses, no dia 30 de Setembro de 2009, ter completado a implementação do projecto. Interpelados pelo Jornal da Mealhada garantiram também que, ao dizer implementado, entendiam, como empresários que são, o momento da emissão da primeira factura ao cliente.
Ficou claro, na intervenção de Paulo Maló, que a MCHG pretende dar notoriedade à vila do Luso e que pretende não perder dinheiro. Disse que, para isso, seria preciso “transformar as termas numa espécie de shopping da saúde” — com termalismo clássico, com SPA, com comercialização de produtos cosméticos, serviço de fisioterapia e, acima de tudo, com a prestação de um serviço de check-up médico completo aos utentes. Afirmou, também, que o projecto que pretende realizar está vocacionado especialmente para um mercado de clientes de gama média alta, com poder económico, à procura de qualidade nos cuidados de saúde, no turismo, na hotelaria e na restauração.
No momento em que é anunciado este compromisso da SAL, que até pode considerar-se como sendo mais um — até porque a Scottish & Newcastle, de que a SAL é propriedade, está envolvida num processo de compra por parte da Heineken e não se sabe que estratégia terão os novos proprietários —, entendemos que estamos a viver um momento de viragem nas Termas de Luso e, consequentemente, na economia do Luso e do concelho da Mealhada. Não será fácil aceitar novo falhanço na tão desejada solução da desesperante necessidade de recuperação das Termas de Luso.
A 30 de Setembro de 2009 — mais mês, menos mês, dizemos nós — teremos, em face do apresentado, sublinhamos, um complexo de termalismo moderno no centro do Luso. Na mesma altura teremos a Avenida Emídio Navarro completamente remodelada, um parque de estacionamento à entrada do Luso, um Mercado Público arranjado, uma nova extensão de saúde. Teremos um Luso bonito — talvez só, e temporariamente, um bocado mais feio por causa da campanha eleitoral que nesses dias se viverá. Tudo estará, em face do anunciado pela SAL, pela MCHG, pela Câmara, pela Junta de Freguesia e pelo Estado, impecável e conforme o desejado pela população, pelos visitantes, e, acima de tudo pelos comerciantes e pelos hoteleiros. Se assim acontecer SAL, MCHG, Câmara, Junta de Freguesia e Estado poderão dizer: Fizemos o que nos competia, por nós está pronto.
A questão que se coloca neste momento é a seguinte: Que terão os comerciantes e hoteleiros que fazer para acompanhar esta transformação e, daqui a dezoito meses, poderem inverter o ciclo de depressão económica e social que têm suportado? Estarão os comerciantes e hoteleiros em condições — económicas e psicológicas, por exemplo — de tirar todo o proveito deste projecto da MCHG? Ou do projecto Luso Inova, já aqui referido? Terão os administradores da SAL e do MCHG credibilidade suficiente, junto dos empresários, para estes se poderem abalançar em investimentos fundamentais para tirarem proveito da chegada de clientes de gama média alta ao Luso para utilização das Termas?
Aplaudimos a criação da Associação de Comerciantes e Hoteleiros do Luso. Consideramos que poderá ser um elemento fundamental para que o máximo de pessoas retire o máximo proveito do projecto que agora se anunciou. Acreditamos, firmemente, que só uma estrutura com estas condições poderá dar aos empresários do Luso as informações e a esperança de que necessitam para poderem transformar os seus negócios e aproveitarem a oportunidade.
Pareceu-nos de confiança a afirmação de Paulo Maló de que não entra no negócio para perder dinheiro. Pareceram-nos credíveis os objectivos e o perfil dos clientes que o empreendimento pretende atrair. Clientes que, se não encontrarem alojamento ao seu nível no Luso, irão para o Buçaco, para a Curia ou para Coimbra. Que, se não encontrarem oferta variada na restauração do Luso, e como não irão comer leitão todos os dias, procurarão restaurantes da Mealhada, e depois procurarão variedade na região.
A bola, que até agora estava do lado da SAL, passou, rapidamente, para os comerciantes e hoteleiros do Luso. Para já, receberam a bola e ainda estarão a tomar consciência disso. Em breve terão necessidade de olhar à volta para ver a sua posição no jogo, terão de definir uma estratégia, e, por fim, de rematar ou passar a bola. Os adeptos até poderão gritar sugestões, mas a decisão final, ritmada pelos segundos a contar, é sempre, nesta fase, de quem tem a bola.
in Editorial do Jornal da Mealhada de 2 de Abril de 2008

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