quarta-feira, 21 de maio de 2008

Mercurii dies

[537.]

Parque Urbano da cidade da Mealhada

Foi assinado, há poucos dias, o contrato de reconversão dos Viveiros Florestais da Mealhada em Parque Urbano. Depois de um longo processo de negociação, entre a administração central e a Câmara Municipal da Mealhada, por causa da propriedade daquele espaço — terá terminado a 26 de Fevereiro de 2007 e durado catorze anos —, seguiu-se a permuta da propriedade dos Viveiros pela do terreno da Escola Básica 2,3 da Pampilhosa, com escritura assinada a 31 de Maio de 2007, e, agora, a adjudicação da dita empreitada. Fica a faltar a inauguração do Parque, em Fevereiro ou Março de 2009, para dar fim a um processo longo, doloroso, que serviu, essencialmente, para alimentar querelas políticas, durante década e meia, e dar origem à degradação quase total de um espaço nobre.
Já se conhece, a traço grosseiro, o que quer a Câmara Municipal da Mealhada construir no Parque Urbano. Construir, no sentido de transformar. Porque, como foi tornado público, na escritura de permuta ficou expresso o compromisso de nada ali ser edificado definitivamente. Foi um compromisso que a Câmara assumiu e que condicionará a utilização daquele espaço. Se a cláusula foi imposta por Carlos Cabral, presidente da Câmara da Mealhada, ou pela administração central, não sabemos. Mas que lá está, está.
Está, portanto, decidido o que será feito naquele local. Mas definido não está o que será feito daquele espaço. Pode a Câmara construir ali o que quiser. O seu aproveitamento, porém, ficará sempre, dependente da população. Para o Parque Urbano ser frequentado precisa de ser seguro. E só será seguro se for frequentado. Daqui não poderemos passar. Se for edificada uma cafetaria na zona norte do parque, como está previsto, só haverá interessados na sua exploração se houver
pessoas nas proximidades, para além dos alunos das escolas vizinhas. E este é, também, um facto a ter em consideração.
Parece-nos pacifico que ali devam ser instalados equipamentos de apoio à prática desportiva: circuitos de manutenção, percursos pedonais, campos para desportos colectivos. Equipamentos que promoverão um aumento do número das pessoas que, diariamente, utilizam o local para jogar, correr, andar de bicicleta, caminhar, etc. Algumas pessoas gostariam, também, de dispor de uma área para piqueniques. A existência de um espaço com essas características — com mesas, bancos e água corrente, onde pudessem fazer-se churrascos, por exemplo — garantirá a ocupação do parque nos fins-de-semana e dias festivos e poderá ser importante para dinamização desse espaço.
Somos de opinião de que o Parque Urbano da cidade deverá ser dotado, também, de condições que permitam o seu aproveitamento pelas escolas para actividades pedagógicas. Deverá continuar a ser um viveiro de espécies autóctones (ou uma maternidade de plantas, como entenderiam as crianças), mas ter também lugar para espécies exóticas e funcionar como jardim botânico. O parque tem, também, as características suficientes para que nele seja instalada uma estufa onde poderão funcionar aulas ou acções de formação em técnicas laboratoriais de Biologia, por exemplo, para os alunos das escolas que funcionam nas imediações, entre outros.
A recusa recente, por parte da Câmara da Mealhada, em aceitar a hipótese de os desfiles do Carnaval da Bairrada se realizarem nos terrenos do parque, não deve significar uma ruptura com
qualquer hipótese de ali se realizarem outras actividades de cariz recreativo ou cultural. Sublinhe-se que não nos parece descabida a sugestão de realizar o desfile do Carnaval nas imediações do Parque Urbano. De qualquer modo seria importante que, para a elaboração de programas de animação regular, com a realização de actividades culturais, o Parque Urbano tivesse uma equipa, constituída pela Câmara, pela Junta de Freguesia e pelas associações do concelho da Mealhada.
Actuações musicais, artes cénicas — teatro de rua, por exemplo —, e desportivas, entre outras.
Muitas pessoas gostariam de ver no Parque Urbano da cidade espaços para sedes de rancho, ou de escuteiros, ou das escolas de samba da cidade. Não poderemos deixar de reconhecer que são legítimas tais expectativas, na medida em que também isso contribuiria, significativamente, para que o espaço fosse frequentado e ter dinamização.
O Parque Urbano da cidade deve ser, também, um espaço de cidadania. É parte fundamental do coração da freguesia. Tal como a zona urbana da Mealhada, aquele espaço evoluiu historicamente. O Parque Urbano da Mealhada poderá ter uma dimensão cívica como têm outros parques do género, existentes no resto da Europa, por exemplo. É um local privilegiado para se colocarem instalações artísticas, arte moderna ou monumentos consagrados a personalidades e a realizações do concelho da Mealhada e da Nação portuguesa.
Em Hyde Park, importante parque do centro de Londres, e noutros parques de países anglófilos, há um Speakers corner — canto dos oradores — onde pode discursar quem quiser, durante o tempo que quiser, sobre o que quiser, desde que não viole a lei. Enquanto ninguém se lembra de instalar algo parecido no Parque Urbano da Mealhada — Seria descabida a ideia? — resta-nos exprimir a nossa opinião sobre o que gostaríamos de ver, ou de fazer, naquele espaço.
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Editorial do Jornal da Mealhada de 21 de Maio

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