Faltam 361 dias para as autárquicas…
As movimentações que se esperam em doze meses de campanha eleitoral
Na passada quinta-feira, 9 de Outubro, completou-se o terceiro ano sobre o dia das últimas eleições autárquicas, em 2005. Novo acto eleitoral para as autarquias locais acontecerá, provavelmente, em 11 de Outubro de 2009 — já não falta um ano. Dizemos provavelmente porque é uma decisão a tomar pelo Presidente da República, que, para 2009, tem de agendar as eleições autárquicas e legislativas que, por lei, teriam lugar, no mês de Outubro. Há quem admita, no entanto, a hipótese de as eleições legislativas serem antecipadas, vindo a realizar-se antes das eleições europeias, marcadas para Junho.
Esperam-se, então, para muito próximo, os anúncios oficiais, ou não oficiais, das decisões dos partidos políticos e, eventualmente, de alguns movimentos de cidadãos acerca das suas estratégias, programas e, talvez seja o mais esperado, dos nomes que encabeçarão cada uma das listas de candidatos à Câmara Municipal, à Assembleia Municipal e às Assembleias de Freguesia.
Ao que nos é dado perceber, pelo que é público e pelo que sabemos, ainda em nenhuma das estruturas partidárias do concelho da Mealhada haverá fumo branco, uma decisão final, acerca dos nomes dos que encabeçarão as listas candidatas aos dez órgãos autárquicos.
Num exercício de pura análise, com o possível rigor, o que nos é permitido pela simples observação, atrevemo-nos a “pensar em voz alta” as movimentações que se esperam, para os próximos meses, em cada um dos partidos.
As decisões partidárias sobre a escolha do cabeça-de-lista de cada uma das candidaturas à Câmara Municipal são as mais aguardadas.
É para o Partido Socialista que, neste momento, todas as atenções estarão viradas. Saber qual será o desenlace do braço-de-ferro que se aguarda entre Carlos Cabral e Rui Marqueiro é a “resposta do milhão de euros”…
O actual presidente da Câmara, Carlos Cabral, já anunciou que estará na disposição de voltar a encabeçar a lista do PS. Disse, também, há precisamente um ano, que, para além da sua própria vontade “é precisa a vontade do partido”. As declarações de Cabral nessa altura provocaram algum mal-estar — pela antecipação, acima de tudo — e motivaram declarações premonitórias da parte de Rui Marqueiro (presidente da Câmara entre 1989 e 1999), que deixaram antever a hipótese de ele próprio assumir uma candidatura interna ao lugar.
Efectuaram-se, entretanto, em Março, eleições na comissão concelhia da Mealhada do PS. Rui Marqueiro obteve vitória esmagadora para a presidência dessa comissão. O concorrente vencido foi José Calhoa, vereador de Cabral, que, no fundo, representaria a sensibilidade do presidente da Câmara no seio do partido.
Pelo que nos parece, dificilmente será na Mealhada que a decisão final será tomada. Na cúpula nacional do PS vigora o respeito pelo principio de que em quem ganha não se mexe e, portanto, segundo este principio, em Lisboa preferirão Cabral a Marqueiro — cujo peso eleitoral é, dez anos após ter saído da Câmara, uma incógnita. Cabral goza de algum prestígio entre a cúpula nacional do partido mas não faz parte da comissão politica nacional, nem tem nenhum cargo nacional, o que, nesta ocasião, pode ser uma desvantagem. Se a dúvida, em termos nacionais, se instalar, certamente que o caminho a seguir será o de um estudo de opinião, uma sondagem, que ditará quem obteria melhor resultado na eleição autárquica. E esta sondagem será decisiva. Se a estrutura nacional continuar a preferir Cabral, e se o vencedor das eleições para a Federação Distrital de Aveiro, a 24 de Outubro, for Afonso Candal, que tem o apoio de Marqueiro, poderá voltar a haver oposição à escolha do actual presidente. De qualquer maneira, só depois do veredicto superior é que a comissão politica concelhia ratificará a decisão. Se a escolha for Cabral, Marqueiro não apresentará o seu nome para discussão, apresentará o nome de algum dos seus próximos. Dito de outra maneira, pelo que nos é dado observar, a escolha de Cabral, na comissão politica concelhia, nunca será unânime.
No PSD as coisas parecem mais simples. Depois da vitória esmagadora de César Carvalheira sobre Carlos Marques, nas eleições para a comissão política concelhia em Abril de 2008, a escolha de Carvalheira para cabeça-de-lista parece pacífica. Resta saber se Carvalheira terá vontade de se submeter a terceiro sufrágio (depois de ter sido derrotado por Rui Marqueiro em 1989 e em 1993). Uma eventual maioria absoluta de José Sócrates, no caso de as eleições legislativas acontecerem antes das autárquicas, pode influir na decisão. Carvalheira, no entanto, não se assume como candidato natural e está a envidar esforços no sentido de o partido apresentar outra solução, provavelmente com alguém fora do âmbito partidário. De qualquer maneira, nomes como o de Gonçalo Breda Marques, João Oliveira Pires ou Carlos Marques parecem ter sido completamente descartados.
Não deixará de ser curioso, e sintomático, se às eleições de 2009 se apresentarem pelo PS Rui Marqueiro, e pelo PSD César Carvalheira. Exactamente os mesmos cabeças-de-lista apresentados às eleições de 1989 e de 1993. Vinte anos depois, repetem-se os protagonistas.
Da parte do Partido Comunista Português espera-se uma candidatura à Câmara Municipal da Mealhada, integrada na CDU. O candidato, seja ele quem for, dificilmente conseguirá ser eleito vereador, pelo que o esforço dos comunistas centrar-se-á na eleição de elementos para Assembleia Municipal e para as Assembleias de Freguesia da Mealhada e da Pampilhosa.
O Movimento Odete Isabel, que se apresentou a sufrágio em 2001, dificilmente terá condições para obter o mesmo resultado que há sete anos — elegeu um vereador e quatro elementos na Assembleia Municipal. Recentemente foi anunciada a intenção do movimento em se apresentar às eleições de 2009. Mas entre a intenção de o fazer e fazê-lo realmente vai uma larga distância. Se o candidato do PS for Carlos Cabral, os aderentes do MOI podem sentir um maior apelo a organizarem uma candidatura própria.
Pelo que nos apercebemos, uma candidatura do CDS/PP só surgirá se, de alguma maneira, houver alguma tentativa, por parte do PSD, de recrutar para as suas listas militantes populares. De outra forma não parece haver estímulo suficiente para o surgimento de uma candidatura.
Onde o terreno se afigura propício à sementeira é junto dos simpatizantes pelo Bloco de Esquerda. Os 712 votos que o partido alcançou nas eleições legislativas de 2005 teriam sido mais do que suficientes para eleger um elemento para a Assembleia Municipal da Mealhada. E podem, agora, constituir estímulo para os militantes do partido, que os há, apresentarem uma lista de candidatura. Alguns deles têm vasta experiência política concelhia.
Já no que diz respeito às freguesias o panorama parece ser muito menos emocionante. Publicámos, nos meses de Junho, Julho e Agosto de 2008, um conjunto de oito entrevistas às equipas que constituem as Juntas de Freguesia do concelho da Mealhada. Questionados os presidentes das Juntas, sobre a hipótese de recandidatura, só José Rosa, da Vacariça, eleito na lista do PS, anunciou indisponibilidade. Mas também se sabe que as recandidaturas não serão todas automáticas. Dependentes do veredicto do duelo Cabral-Marqueiro estarão as recandidaturas de Delfim Martins, de Barcouço — que prefere Cabral — e, eventualmente, a de Benjamim Almeida, da Antes — que prefere Marqueiro. Nas outras freguesias as recandidaturas são todas previsíveis e partem em vantagem sobre outros candidatos.
Faltam 361 dias para as eleições autárquicas. Doze meses de grande agitação que acompanharemos com entusiasmo e atenção.
Editorial do Jornal da Mealhada de 15.10.2008
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