Ajudar a ser voluntário
Incomoda, muitas vezes, o número de interpelações que nos são feitas no sentido de apoiarmos, com dinheiro ou géneros, um sem número de causas sociais e comunitárias. À porta do supermercado encontramos, bastas vezes, pessoas que nos solicitam apoio para os Escuteiros, para o Banco Alimentar Contra a Fome, para a Liga Portuguesa contra o Cancro, para o Grupo de Acção Sócio-caritativa, ou, em outros locais, para os Bombeiros, para um rancho folclórico, ou para um clube desportivo. Pode, à primeira vista, causar-nos algum transtorno, é certo, mas temos de reconhecer que apoiar pode ser, mesmo que o nosso contributo seja mínimo, valiosa ajuda para tornar possível a acção voluntária de outros.
O trabalho do voluntário, a sua militância, é o resultado de uma decisão livre e espontânea que ele tomou, apoiada em motivações e opções pessoais de altruísmo e disponibilidade para os outros. São pessoas que se colocam ao serviço de outras pessoas, das famílias e das comunidades, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e do bem estar das populações.
O exemplo mais claro deste espírito de altruísmo, de dedicação ao seu semelhante, e deste esforço de abnegação, de voluntariado, é, naturalmente, o dos bombeiros voluntários. É, provavelmente, o mais imediatamente reconhecido, até porque envolve um risco de vida, mas não é o único que encontramos na população do concelho da Mealhada.
As associações, culturais, recreativas, de solidariedade social, desportivas ou outras, são dirigidas por voluntários. Pessoas que se associaram para a concretização de um objectivo de interesse comunitário, que dispõem do seu tempo — algumas até do seu dinheiro — para o dar aos outros. Há satisfação pessoal? Naturalmente. Há crescimento da auto-estima e do reconhecimento público? Nem sempre…
As comissões fabriqueiras de capelas e igrejas são compostas por pessoas que dispõem de si para a defesa e manutenção de património colectivo. Encontramos voluntários nestas comissões que se disponibilizam para promover obras que envolvem centenas de milhares de euros que têm de ultrapassar obstáculos burocráticos imensos, tempos de espera ciclópicos que não se compadecem com a urgência de tectos a ruir, de paredes a ceder, de património a destruir-se a cada minuto que passa. Voluntários que resistem, que têm estômago para repetir ano após ano ‘peditórios pelo povo’, além de outros esforços.
São voluntárias as pessoas que se disponibilizaram para a formação das crianças, adolescentes e jovens, no âmbito desportivo, no âmbito da catequese, ou da formação escutista. Formação que é feita, muitas vezes, pelo exemplo.
São também voluntárias as pessoas que no concelho da Mealhada, ou noutros, integram Grupos de Acção Sócio-caritativa, ou associações de benemerência e solidariedade. Pessoas que visitam doentes, que recolhem e distribuem géneros alimentícios por dezenas de famílias desfavorecidas, que procuram disponibilizar cadeiras de rodas, camas articuladas, andarilhos e outros equipamentos a quem deles necessita.
Como são voluntários os que aceitam dar a cara por campanhas como a do Banco Alimentar contra a Fome ou a da Liga Portuguesa contra o Cancro. Voluntários que nos abordam directamente, estranhos, para nos pedir algo que não é para si, mas para outros que não podem estar ali.
O voluntário é aquele que dá por vontade — voluntas. Vontade que muitas vezes nos falta para comprarmos um qualquer objecto de uma campanha financeira, ou para irmos à reunião da assembleia-geral do clube ou à reunião da comissão fabriqueira da capela. Vontade cuja falta muitas vezes faz com que não haja meios para que os voluntários possam dispor do seu tempo para ajudar quem precisa. Voluntários esses que, verdadeiramente, não esperam o nosso reconhecimento e o nosso elogio, mas a quem temos, naturalmente, de dar valor e agradecer.
Editorial do Jornal da Mealhada de 19 de Novembro de 2008
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