quinta-feira, 4 de junho de 2009

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Luso, 25 de Março de 1949

“Naquela casa do Luso, no meio do nervosismo geral, da alegria alarve dos agentes da PIDE e do estado de choque dos presos, acabava uma era da história da luta da oposição portuguesa e do PCP”. É desta forma que José Pacheco Pereira, biógrafo de Álvaro Cunhal — dirigente mítico do Partido Comunista Português e da oposição ao Estado Novo —, caracteriza os acontecimentos de 25 de Março de 1949. Álvaro Cunhal, a viver na clandestinidade numa casa na vila termal de Luso, é preso pela PIDE, a polícia política do Estado Novo, juntamente com outro dirigente comunista, Militão Ribeiro, e a companheira da residência clandestina Sofia Ferreira.
A data poderá considerar-se uma derrota para a oposição ao Estado Novo. Mas não deixa de ser um momento decisivo para a história de Portugal do século XX que só a Democracia permite analisar e investigar. Cunhal é, em 25 de Março de 1949, um prisioneiro. Onze anos depois, oito dos quais em isolamento total, foge da cadeia e surge como um herói, um libertador e, mais tarde, um ‘senador’ da III República.
É com a evocação deste acontecimento, ocorrido na vila termal de Luso, no concelho da Mealhada, no coração da Bairrada, que nasce a VIA. VIA é uma revista de divulgação histórica e cultural, especialmente dedicada à valorização do património do município da Mealhada, e dos concelhos vizinhos — Anadia, Cantanhede, Mortágua, Penacova e Coimbra —, da região da Bairrada e do Buçaco.
Mas VIA é caminho, e há caminhos, estradas, que ligam pessoas e que criam espaços. E há pessoas, e comunidades, que são resultado desses espaços. Comunidades que, culturalmente, se adaptaram a ver passar legiões romanas, peregrinos de Santiago de Compostela, viajantes e comerciantes, intelectuais e salteadores. Que, circunstancialmente, souberam ser porta de entrada dos ares da Europa, da modernidade, da Literatura e da Filosofia, da Democracia e da Liberdade. Assim se passa com as comunidades da região da Bairrada e com as do concelho da Mealhada em particular.
Tal como o caminho tem dois sentidos — e a própria palavra VIA pode ler-se nos dois sentidos — VIA é, também, meio, modo de obter ou conseguir qualquer coisa. VIA é desígnio, é método, é vontade. E é tudo isso que pretende ser este projecto de valorização histórica e cultural das comunidades da região em que se estabelece.

Pensamos que estaremos a dar um contributo importante para o estudo histórico do património cultural da região do Centro de Portugal. Procuraremos prosseguir. Contamos, agora e no futuro, com a ajuda de algumas dezenas de pessoas, desde investigadores e coleccionadores até testemunhas e curiosos, para a pesquisa de que resulta o presente trabalho. Contributos importantes para uma aproximação à verdade do que se passou na madrugada de 25 de Março de 1949.

Editorial da Revista Via n.º 01

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