A falta da (ou de uma) ExpoMealhada
Quando se faz o balanço da 20.ª edição da Expofacic – Exposição, Feira Agrícola e Industrial e Festas do Concelho de Cantanhede –, é com nostalgia que recordamos os meses de Julho de 2005 e de 2006, quando a Associação Comercial e Industrial da Mealhada (ACIM) e a Câmara da Mealhada decidiram associar-se e organizar a ExpoMealhada.
Nunca se percebeu, realmente – isto para além do conflito de personalidades –, porque razão fracassou o evento. Bem se sabe que era uma realização cara, bem se sabe que dos cofres da Câmara não teria de sair todo o investimento, bem se sabe que uma criança dá muitas quedas antes de começar a andar. A ExpoMealhada morreu na praia e (quase?) todos os protagonistas políticos lamentam esse facto, sem, no entanto, terem tido a coragem de o fazer ressuscitar.
Segundo dados divulgados pela organização da Expofacic, serão fiáveis ou não, visitaram a feira 416 mil pessoas. Destas, 73 mil fizeram-no no último dia. Se tivermos em atenção que o concelho de Cantanhede tem cerca de quarenta mil residentes, facilmente chegamos à conclusão de que se trata de um evento aglutinador na região. A animação chama pessoas que são impelidas a visitar os expositores comerciais e a apoiar as associações culturais que fazem a exploração de espaços gastronómicos, vulgarmente chamados de ‘tasquinhas’. Há, notoriamente, uma distribuição da riqueza, um fluxo financeiro que, inegavelmente, apoiará a economia local mesmo que em pequena escala, mesmo em época de crise.
Bem pode dizer-se que a existência de uma feira desta dimensão num concelho vizinho – a que se juntará a Feira da Vinha e do Vinho, em Anadia, em Junho – inviabiliza a realização de um certame similar no concelho da Mealhada. É provável que isso seja verdadeiro, mas não é exigível que um certame como a ExpoMealhada fosse criado para destronar um peso pesado como é a Expofacic, logo nas primeiras edições.
Bem pode dizer-se que o concelho da Mealhada já tem a sua Feira Gastronómica e a sua oportunidade de incremento da auto-estima e do sentimento colectivo e identitário. É um facto. Mas não é menos verdade que essa realização – exclusivamente camarária – é iminentemente de promoção do artesanato e da gastronomia sem qualquer carácter de natureza comercial, pelo que Feira de Artesanato e Gastronomia e ExpoMealhada são eventos que não se imiscuiriam – apesar de poderem ser complementares.
Carlos Pinheiro, presidente da direcção da ACIM, já reconheceu que há necessidade de reequacionar os modelos utilizados para realizações como as Feiras de Stocks ou as Feiras do Emprego, promovidas pela associação comercial mealhadense. Esse reequacionar bem podia começar por colocar em cima da mesa a reedição da ExpoMealhada, alicerçada numa estratégia de parceria cooperativa entre a ACIM, a Câmara e empresas de referência do concelho da Mealhada. Estratégia essa de crescimento gradual, a cinco anos, por exemplo, no caminho da promoção de uma auto-sustentabilidade financeira a longo prazo. A reedição de uma feira comercial que procurasse, antes de imitar, pura e simplesmente, modelos, como os citados, fosse ao encontro da satisfação de necessidades locais e regionais específicas como a da promoção turística, a da divulgação e exaltação do património gastronómico, como a afirmação do concelho da Mealhada como possuidor de uma centralidade e de uma infraestruturação logística espectacular. Para além de todas as outras questões óbvias e decorrentes como a promoção da economia local (e aqui o escoar das mercadorias como é objectivo das Feiras de Stocks) e de novas oportunidades de emprego, por exemplo.
Depois do fracasso resultante da não continuidade da ExpoMealhada, após as edições de 2005 e de 2006, é bem verdade que o concelho da Mealhada pode ter perdido, definitivamente, a carruagem da chance de realizar um evento similar, à sua escala. Não nos parece de todo razoável é que o assunto seja mantido em suspenso – com a maior parte dos protagonistas políticos do concelho a fazer a apologia das virtualidades da ExpoMealhada – pelo simples facto de não haver a coragem de reconhecer que foi um conflito de personalidades (de personalidades e não de instituições) que provocou a morte prematura do certame.
Editorial do Jornal da Mealhada de 4 de Agosto de 2010
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