Notas de actualidade
1. Orçamento do Estado para 2011
A análise sobre o que se passa na cabeça dos dignitários do Estado nem sempre é de fácil compreensão para os cidadãos. Dificilmente algum dia perceberemos – mesmo que os protagonistas um dia o procurem explicar – o que se passou verdadeiramente nas últimas duas semanas no âmbito da negociação entre Governo e PSD para a viabilização do Orçamento do Estado para 2011.
A forma como os partidos da oposição foram pressionados para aprovar o documento antes mesmo de o conhecerem, a forma como o documento foi apresentado, a forma como decorreram as primeiras negociações e de como acabaram sem acordo, o conteúdo da reunião do Conselho de Estado de 29 de Outubro, as pressões do Conselho Europeu, as reuniões secretas em casa de Catroga, tudo isso, situado na estratosfera da Alta Política nos faz pensar, eventualmente até especular sobre o que se passou na verdade, que pressões foram realmente valorizadas, quem ganhou e quem perdeu, de facto. Provavelmente teremos de esperar pelas biografias política de alguns dos protagonistas, eventualmente por alguma entrevista. De qualquer forma há curiosidade em perceber “o que foi isto!”.
2. Política no feminino
Dilma Roussef, candidata do Partido dos Trabalhadores à presidência da República Federativa do Brasil é a primeira mulher eleita para a Chefia do Estado do maior país da América Latina, uma República com 121 anos. A antiga guerrilheira marxista, antiga ministra das Minas e Energia de Lula da Silva, e, mais tarde, sua ministra da Casa Civil e braço direito do presidente metalúrgico torna-se a 17.ª mulher no mundo – na actualidade – a exercer o cargo de Chefe de Estado ou de Governo. Em 192 países da ONU, hoje, apenas 16 são governados por mulheres ou têm mulheres na chefia do Estado.
O que não deixa de ser curioso é que Dilma Roussef tornar-se-á, a partir de 1 de Janeiro de 2011, na líder do maior país da América Latina e na 11.ª mulher a ocupar um lugar na chefia do Estado de um dos 33 países deste subcontinente. Desde 1974, altura em que na Argentina Isabel Peron sucedeu ao marido, já mais dez mulheres ocuparam cargos de chefia de Estado. No caso da Argentina, até mais do que uma vez.
Também na Europa há casos dignos de registo como na Finlândia e na Irlanda – em que mulheres já sucederam a mulheres e em que Chefe de Estado e Chefe de Governo eram, igualmente, mulheres. Seria desonesto não lembrar, ainda, que no Reino Unido, na Holanda e na Dinamarca, a Chefia de Estado cabe uma rainha. Registo também para os poucos casos na Europa em que as mulheres ocuparam chefia de Governo pelo menos uma vez (Ângela Merkel, na Alemanha, Edit Cresson, em França, e Margaret Thatcher, no Reino Unido).
E a análise remete-nos, então, para Portugal. Portugal que nunca teve uma Presidente da República. Que em quarenta anos de igualdade formal de género teve apenas uma candidata a Presidente da República, Maria de Lurdes Pintassilgo, que, por sua vez, havia sido a única portuguesa a exercer o cargo de primeira-ministra (apesar de ter sido nomeada num Governo de iniciativa presidencial). Portugal que em trinta e seis anos de democracia teve apenas duas mulheres na liderança de partidos políticos, Maria José Nogueira Pinto e Manuela Ferreira Leite, sendo esta a única a, em tese, poder considerar-se candidata a primeira-ministra.
Quatro anos depois da Lei das Quotas para o exercício de cargos políticos, o que é que mudou em Portugal.
3. Festas e aniversários
As medidas de austeridade não nos obrigam a deixar de festejar e de assinalar com expressividade as datas que fazem parte do nosso património identitário. Mais importante do que o gasto que se faz é o valor pedagógico, intrínseco e comunitário que as acções comemorativas preconizam.
Na semana em que com o Congresso Internacional sobre a Batalha do Bussaco terminam as comemorações dos duzentos anos do 27 de Setembro de 1810, e termina o mês de Outubro, o das comemorações do Centenário da República é tempo de pensar nas próximas festividades – mesmo que feitas em clima de austeridade.
No próximo sábado, 6 de Novembro, assinala-se o 174.º aniversário da criação do concelho da Mealhada. Ou seja, dentro de um ano, observar-se-á o seu 175.º aniversário, uma data “redonda” e propícia à evocação do melhor do nosso espírito identitário. A um ano de distância fica a sugestão, para que alguém vá pensando no assunto sem ter o argumento de que ninguém tinha avisado.
Editorial do Jornal da Mealhada de 3 de Novembro de 2010
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