sexta-feira, 14 de junho de 2013

[1622.] O fio dos dias no Jornal da Mealhada #01



24 de junho de 1944
 
O eterno retorno?
 
Sobre a data da fundação da freguesia da Mealhada passam, no próximo dia 24 de junho, 69 anos. Em 1944, numa altura em que a vila da Mealhada vivia um momento glorioso de expansão, com a construção dos Viveiros Florestais, com a construção da variante conhecida como Estrada Nacional n.º1 (hoje Alameda da Cidade), com a edificação das Caves Messias, nascia a autonomização administrativa da localidade que desde 1836 era sede de concelho, mas que continuava a ser integrante da freguesia da Vacariça.
Esta vontade e esta espécie de autodeterminação nascem não pela vontade política, apesar da ajuda desta, mas pela mão de um conjunto de mealhadenses – onde se destacava João Saraiva, comerciante, que viria a ser o primeiro presidente da Junta de Freguesia, e que já havia sido um dos impulsionadores da criação do Corpo de Bombeiros da Mealhada.
Em 2014 ainda haverá a freguesia fundada pelos mealhadenses, setenta anos antes. Mas haverá, também, uma nova estrutura a governá-la, uma União que a congrega às duas freguesias que em 1963 se haviam separado uma da outra, a Antes e Ventosa do Bairro. O retorno à unidade em vez da autonomização. O retorno à unificação em nome da necessidade de agradar à troika e da alegada necessidade de rentabilizar recursos. Será que os mealhadenses que durante 108 anos conviveram com a realidade de ser sede de concelho sem ser sede freguesia se vão importar?
Sobre os candidatos e os futuros eleitos nas eleições autárquicas de setembro de 2013 cai agora, nos ombros, uma grande responsabilidade, a de criar um modelo de governação autárquica integralmente novo, a de congregar três freguesias diferentes numa unificação de esforços, numa unidade orçamental, perante três realidades distintas, com três comunidades desiguais.
Fica a sugestão – até porque ainda nem em campanha estamos – de que os candidatos à União das Freguesias de Antes, Mealhada e Ventosa do Bairro, se recusem a tentar homogeneizar as três freguesias. O ideal seria que continuassem a ser apoiadas e realizadas as iniciativas já características de cada uma das freguesias – como a Festa dos Saberes e Sabores de Ventosa do Bairro –, que se promova a colocação de placas de sinalética com a indicação dos limites geográficos de cada uma das três freguesias, que continue a haver três tasquinhas na Feira de Artesanato para associações de cada uma das freguesias e, porque não, se passe a comemorar com pompa e circunstância a data da fundação de cada uma das freguesias – o 24 de junho de 1944 na Mealhada, o 23 de abril de 1963 na Antes, e, porque a freguesia de Ventosa do Bairro nasceu com a reforma administrativa de 1835, o 18 de julho, que é o dia da publicação da lei.
Os futuros autarcas da União das freguesias têm um trilho tortuoso a percorrer, mas viverão a satisfação de estar a fazer história em cada passo, de estar a transformar o futuro em cada decisão. Trata-se, por isso, acredito eu, de um desafio político como haverá poucos em democracia.

in JORNAL DA MEALHADA de 12 de junho de 2013

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