domingo, 27 de julho de 2014

[1890.] 87.º aniversário dos Bombeiros Voluntários da Mealhada - Intervenção



É com muita alegria que nos voltamos a encontrar, neste mesmo espaço, para a comemoração de mais um aniversário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Mealhada, o octogésimo sétimo aniversário. Fazemo-lo hoje com a especial circunstância de procedermos à bênção de duas viaturas – uma nova e uma reconvertida –, de entregarmos Medalhas de Dedicação e Assiduidade a 14 bombeiros do nosso corpo activo e, ainda, de entregarmos a Carta de Missão ao nosso Comandante. Tudo razões para festejar, para nos alegrarmos e para, daqui, e mais uma vez, reconfirmarmos o compromisso, o contrato sagrado que temos com os mais de onze mil cidadãos que constituem a nossa área de intervenção, e as comunidades do concelho da Mealhada.

Muito obrigado pela vossa presença, a todos vós e a cada um em especial. Permitam-me que vos abrace primeiros aos nossos bombeiros – a todos, os do ativo, e de maneira muito calorosa os do Quadro de Honra e do Quadro de reserva – depois aos nosso sócios, aos nossos autarcas, e aos nossos amigos, a todos eles sem excepção, onde incluo, naturalmente os familiares dos nossos bombeiros.

Antes de entrarmos neste pavilhão, e depois de termos benzido duas novas viaturas e de termos homenageado os bombeiros falecido – os nossos e todos os outros – inaugurámos a galeria dos fundadores da nossa associação e a galeria dos presidentes da mesa da assembleia-geral. Lembro-me de um texto assinado pelo nosso saudoso fundador João Saraiva – que apesar de ter dado a esta casa tanto e de maneira tão forte não tinha uma única fotografia nesta casa – dizer que não se tinha feito, ainda justiça ao trabalho diligente e dedicado de outro fundador, o senhor Augusto Ramalheira. Estou convencido que hoje fizemos o pedido de João Saraiva e no lugar mais destacado e bonito do nosso quartel, temos as fotografias dos três fundadores, o trio de amigos que se juntava ao almoço na Rua Costa Simões, três jovens caixeiros, de vinte e poucos anos, que no dia 26 de julho de 1927, com o apoio do presidente da Câmara, o Padre Breda, fundaram esta grande associação, a maior do concelho.

A organização de Augusto Ramalheira, a operacionalidade e os conhecimentos de quem já tinha sido bombeiro, Bernardino Felgueiras, e o espirito dinâmico e congregador de João Saraiva deram o pontapé de saída para tudo isto, que ao longo de 87 anos tanto cresceu e tanto serviu. Nos filhos, o senhor Ramalheira e Dr. Mário Saraiva, aqui presentes, e nos netos, entrego o meu muitíssimo obrigado.

Inaugurámos, tanto, noutro acto de justiça, a galeria dos presidentes da mesa da assembleia-geral. Que no salão nobre passam a pontificar no terreiro sagrado onde se reúnem os sócios e em muito mais ocasiões a comunidade ativa desta terra. A assembleia-geral, presidida por tão grandes figuras, representa o plenários dos quase 3000 sócios desta casa,  e a democraticidade que a sustenta e superintende. Destaco, nessa galeria – não me vão levar a mal, nem me vai levar a mal o Dr. Branquinho de Carvalho aqui presente, o único sobrevivo da galeria – a figura do Dr. Manuel Oliveira Andrade. Um homem que foi presidente da mesa da assembleia-geral desta casa durante pelo menos cinco décadas. Que deixou de o ser três dias antes de falecer, que fez da inauguração deste mesmo quartel, neste mesmo pavilhão, a sua ultima aparição publica, e que, infelizmente não tinha ainda uma memória nesta casa.

Não me leva a mal o senhor presidente da Câmara se lhe pedir que reponha a justiça moral desta nossa Linda Mealhada Linda e que, uma vez que a Rua Manuel Andrade se transformou num carreirito que une a passagem subterrânea ao Hospital da Misericórdia, ajude a encontrar uma outra artéria a quem possa ser dado o nome deste mealhadense que tanto serviu a Mealhada e as suas gentes. Considere este meu pedido como o presente de aniversário que nos podia dar hoje.   

Caríssimos bombeiros, caríssimos amigos.

Entregamos hoje a Carta de Missão ao nosso comandante Nuno Antunes João. Será estranho fazermos sessão solene da entrega de uma carta de missão, quando não fizemos da tomada de posse. É capaz de ser verdade. Mas entendemos que não deveríamos esperar pela tomada de posse e fizemo-la quase imediatamente, em 19 de abril. E consideramos que é muito importante a figura da Carta de Missão, entregue pela direcção ao seu comandante, que ele aceita e à qual se compromete, num contrato solene com a associação e com a população que por ela é servida. Esta figura da Carta de Missão foi introduzida na alteração do quadro legislativo de 2012, e encarna bem a imagem do comandante que se apresenta como um líder, com um plano e uma estratégia, um rumo e uma missão, assumido através de um compromisso.

E a falta que faz aos portugueses a assunção de valores assentes em compromissos. A importância que tem a lealdade a compromissos.

Nuno Antunes João é um homem de compromissos, de valores. É alguém que acredita no valor do trabalho, e na liderança pelo exemplo. Um homem que tem dado mostras diárias de disponibilidade, de simpatia, de proximidade com as pessoas, com carisma, liderança e um fortíssimo espirito de serviço.

Senhor comandante, a missão que lhe é confiada não é fácil – até porque se fosse fácil não seria para si – mas acredito que seja desafiante e que a vai cumprir com brilhantismo e capacidade.

Ao longo dos últimos doze meses – desde o último aniversário – vivemos neste quartel momentos de grande transformação. Nomeámos um novo comandante e atravessámos uma época florestal em que estivemos em todos os mais relevantes teatros de operações. Vimos bombeiros morrer e vimos a população a mostrar a sua solidariedade e apoio incondicional. Alterámos profundamente esquemas de trabalho, horários, esquemas de voluntariado e serviço. Sofremos, em 11 de fevereiro, quando uma viatura nossa ficou destruída e tememos pela sobrevivência de um bombeiro nosso. Foi um ano intenso, muito intenso, mas que serviu para mostrar de que fibra são feitos os nossos bombeiros.

Senti cooperação, senti que os nossos bombeiros sentem esta casa e esta causa, senti que são solidários, que ajudam, que estão prestáveis e prontos a dar tudo de si. Obrigado a todos os bombeiros, especialmente aqueles que se mobilizaram para ajudar em campanhas de angariação de fundos – especialmente na freguesia da Vacariça, da Mealhada e de Ventosa do Bairro e no Carnaval –, aqueles que nos apresentaram sugestões de iniciativas, que vestiram a camisola quando mais precisámos.

Muito obrigado.

Não posso deixar de apresentar uma palavra de elogio e de agradecimento a todos os que gostam dos Bombeiros. Às centenas de pessoas que se dirigiram ao quartel para entregar alimentos quando no verão passado o país ardia e chorava a morte de oito bombeiros. Aos que nos telefonaram a oferecer comida e dinheiro. E, de modo muito especial aos que connosco colaboraram – com trabalho e produtos – na Feira de Artesanato e Gastronomia. À equipa liderada por Joaquim Ricardo, um bombeiro do quadro de honra que mostra ser um homem extraordinário e à sua equipa fantástica – com bombeiros, antigos bombeiros e pessoas que nunca foram bombeiros – e que em cada ano garantem um financiamento fundamental e estruturante a esta associação. A todos eles e a cada um deles, fica o nosso humilde e sincero obrigado.  

Os tempos não são fáceis. Nunca o foram, e o futuro desta casa tem muito de estratégia, gestão e apoio. O nosso mandato vai rigorosamente a meio. A metade que falta pode ser a mais fácil ou a mais difícil. Será a mais fácil se nos limitarmos a gerir os meios, até porque muitas das medidas difíceis estão tomadas e começam a produzir os primeiros frutos. Mas poderá ser a mais difícil se nos dispusermos a fazer o que falta fazer, a fazer o que a associação e a comunidade precisa que seja feito. Como já assumimos, o desafio que nos é apresentado neste momento é o da remodelação estrutural deste quartel. Para isso precisaremos de muito mais do que boas intenções. Precisamos de massa cinzenta, precisamos de sentido critico para perceber para onde queremos caminhar. E depois precisa de operários, de quem esteja disponível para avançar, para trabalhar, para construir. O caminho daqui para a frente tem de ser estudado, pensado, calculado, para ser bem trilhado. Nós estamos disponíveis, mas não o conseguiremos fazer sozinhos.

Hoje, como há um ano, a palavra final da direcção a que presido – uma direcção em que a média de idades é de pouco mais de um terço da idade da associação - que vos quero deixar é de esperança. Somos uma associação que apesar dos quase 90 anos é jovem, com muita vontade de combater os fogos da vida de frente, com uma vontade grande de Servir com abnegação e altruísmo, com uma enorme vontade de estar ao lado das pessoas que precisam de nós e de quem gostamos tanto!

Vivam os Bombeiros da Mealhada,

Viva o concelho da Mealhada.

 

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