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Caminhos que continuam a cruzar-se
O primeiro-ministro anunciou na sexta-feira, no Parlamento, que o Governo lançará neste mês de Março um conjunto de concursos para a construção de novas estradas. Entre eles está o concurso para a construção de um novo IP3, com perfil de auto-estrada, que ligará, para já, Santa Comba Dão à Auto-estrada 1, na zona de Arinhos, por intermédio de um percurso cujo traçado passa a norte da Serra do Buçaco. O troço de Santa Comba Dão até ao limite da freguesia da Mealhada tem o estudo de impacto ambiental aprovado há vários anos e o estudo de impacto ambiental do trajecto que vai desse limite até à ligação à Auto-estrada 1 viu terminado o prazo de auscultação pública em 25 de Janeiro deste ano. Posteriormente, numa segunda fase, que aguardará só períodos de discussões públicas, será construída a ligação desse IP3 até Coimbra, abrindo uma nova estrada a nascente da actual EN1, que será, ao mesmo tempo, IC 2 e IP 3.
A origem do nome Mealhada, assim o diz António Breda Carvalho no seu livro "Mealhada — A Escrita no Tempo", resulta do termo Meadela, que significa cruzamento de caminhos. Ao longo dos séculos, e na modernidade também, somos obrigados a reconhecer que a geografia e a necessidade que os homens têm de se deslocarem, e de se ligarem uns aos outros, possibilitaram a este espaço territorial condições óptimas para se constituir como uma plataforma privilegiada de encontro, de ligações de toda a espécie, sociais, comerciais, militares, políticas e outras. Num mundo em que estar em rede, fazer parte de uma rede, é pretensão de todos e sinónimo de modernidade, então teremos de reconhecer que o espaço territorial do concelho da Mealhada foi bafejado pela sorte. Estaremos todos cientes desta realidade e dos benefícios que daqui advêm e dos que poderão advir?
A via romana que por aqui se abriu, que foi, como em quase todo o lado, o esqueleto da estrada medieval, terá proporcionado o inicio da formação do ponto de encontro, entre o norte e o sul, o litoral e o interior do território português, que na Mealhada se estabeleceu. Estrada para cavalos, mais tarde provida de malapostas, e depois caminhos-de-ferro, com ligação ao interior profundo de Portugal e à Europa, a partir do entroncamento da Pampilhosa, trouxeram e levaram muita gente, e deixaram nos viajantes marcas que urge revalorizar.
A linha da Beira Alta foi, durante muito tempo, a mais forte e a mais importante ligação que do interior do país e da Europa se estabelecia com esta região. A importância dessa linha baixou significativamente na segunda metade do século XX. E a situação não se tem modificado de forma apreciável. Com o IP3, passando a sul do Buçaco, ter-se-á procurado preencher essa lacuna. É notório, porém, que a ligação entre as cidades de Viseu e Coimbra, pelo norte do Buçaco, é o caminho melhor. Lembrava, há poucos dias, Carlos Cabral, presidente da Câmara Municipal da Mealhada, que, há duzentos anos, até as tropas de Napoleão perceberam que acompanhar o Mondego não seria a melhor via para chegar a Coimbra.
Quando, na década de oitenta do século XX, se construiu a Auto-estrada 1, houve quem receasse que a rapidez da circulação nessa via impedisse os viajantes de vir à Mealhada em busca do leitão assado. Comprovou-se exactamente o contrário. A construção de uma via rápida entre Viseu e a Auto-estrada 1 trará agora, do interior beirão até ao concelho da Mealhada, os apreciadores da boa mesa que é característica da restauração implantada nesta região. Isso poderá constituir uma lufada de ar fresco na actividade gastronómica local.
Por outro lado este projecto, a ser concretizado nos próximos anos, tornará imprescindível e ainda mais prioritária a construção da variante à cidade da Mealhada, o troço do IC2, que ligará os já construídos junto de Águeda e de Coimbra. Esta nova estrada, há muito desejada, há muito prometida, há muito esperada, permitirá a resolução de outros problemas. Permitirá, por exemplo, que camiões e outros veículos pesados deixem de passar, com regularidade, nas estradas que atravessam a cidade da Mealhada. Permitirá que os camiões que transportam água de mesa, nas idas e vindas para a Quinta do Cruzeiro, fluam, e escoem a carga, com mais facilidade. Permitirá que a futura plataforma rodoferroviária da Pampilhosa não traga problemas acrescidos a essa vila e provocará a construção de uma nova entrada para essa povoação.
Carlos Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, reagindo ao anúncio do primeiro-ministro, declarou à comunicação social que a ligação de Coimbra a Viseu, por estrada com perfil de auto-estrada será a “correcção de uma injustiça histórica”. Prepare-se quem reside no concelho da Mealhada, ou dele é natural, para acompanhar atentamente os tempos que se aproximam com a construção destas vias. Atenção necessária para que não se deixe descaracterizar o concelho — as localidades, a paisagem, a economia, os costumes, etc. Atenção para que não se percam oportunidades de crescimento económico e urbanístico e, acima de tudo, de desenvolvimento da qualidade de vida.
O primeiro-ministro anunciou na sexta-feira, no Parlamento, que o Governo lançará neste mês de Março um conjunto de concursos para a construção de novas estradas. Entre eles está o concurso para a construção de um novo IP3, com perfil de auto-estrada, que ligará, para já, Santa Comba Dão à Auto-estrada 1, na zona de Arinhos, por intermédio de um percurso cujo traçado passa a norte da Serra do Buçaco. O troço de Santa Comba Dão até ao limite da freguesia da Mealhada tem o estudo de impacto ambiental aprovado há vários anos e o estudo de impacto ambiental do trajecto que vai desse limite até à ligação à Auto-estrada 1 viu terminado o prazo de auscultação pública em 25 de Janeiro deste ano. Posteriormente, numa segunda fase, que aguardará só períodos de discussões públicas, será construída a ligação desse IP3 até Coimbra, abrindo uma nova estrada a nascente da actual EN1, que será, ao mesmo tempo, IC 2 e IP 3.
A origem do nome Mealhada, assim o diz António Breda Carvalho no seu livro "Mealhada — A Escrita no Tempo", resulta do termo Meadela, que significa cruzamento de caminhos. Ao longo dos séculos, e na modernidade também, somos obrigados a reconhecer que a geografia e a necessidade que os homens têm de se deslocarem, e de se ligarem uns aos outros, possibilitaram a este espaço territorial condições óptimas para se constituir como uma plataforma privilegiada de encontro, de ligações de toda a espécie, sociais, comerciais, militares, políticas e outras. Num mundo em que estar em rede, fazer parte de uma rede, é pretensão de todos e sinónimo de modernidade, então teremos de reconhecer que o espaço territorial do concelho da Mealhada foi bafejado pela sorte. Estaremos todos cientes desta realidade e dos benefícios que daqui advêm e dos que poderão advir?
A via romana que por aqui se abriu, que foi, como em quase todo o lado, o esqueleto da estrada medieval, terá proporcionado o inicio da formação do ponto de encontro, entre o norte e o sul, o litoral e o interior do território português, que na Mealhada se estabeleceu. Estrada para cavalos, mais tarde provida de malapostas, e depois caminhos-de-ferro, com ligação ao interior profundo de Portugal e à Europa, a partir do entroncamento da Pampilhosa, trouxeram e levaram muita gente, e deixaram nos viajantes marcas que urge revalorizar.
A linha da Beira Alta foi, durante muito tempo, a mais forte e a mais importante ligação que do interior do país e da Europa se estabelecia com esta região. A importância dessa linha baixou significativamente na segunda metade do século XX. E a situação não se tem modificado de forma apreciável. Com o IP3, passando a sul do Buçaco, ter-se-á procurado preencher essa lacuna. É notório, porém, que a ligação entre as cidades de Viseu e Coimbra, pelo norte do Buçaco, é o caminho melhor. Lembrava, há poucos dias, Carlos Cabral, presidente da Câmara Municipal da Mealhada, que, há duzentos anos, até as tropas de Napoleão perceberam que acompanhar o Mondego não seria a melhor via para chegar a Coimbra.
Quando, na década de oitenta do século XX, se construiu a Auto-estrada 1, houve quem receasse que a rapidez da circulação nessa via impedisse os viajantes de vir à Mealhada em busca do leitão assado. Comprovou-se exactamente o contrário. A construção de uma via rápida entre Viseu e a Auto-estrada 1 trará agora, do interior beirão até ao concelho da Mealhada, os apreciadores da boa mesa que é característica da restauração implantada nesta região. Isso poderá constituir uma lufada de ar fresco na actividade gastronómica local.
Por outro lado este projecto, a ser concretizado nos próximos anos, tornará imprescindível e ainda mais prioritária a construção da variante à cidade da Mealhada, o troço do IC2, que ligará os já construídos junto de Águeda e de Coimbra. Esta nova estrada, há muito desejada, há muito prometida, há muito esperada, permitirá a resolução de outros problemas. Permitirá, por exemplo, que camiões e outros veículos pesados deixem de passar, com regularidade, nas estradas que atravessam a cidade da Mealhada. Permitirá que os camiões que transportam água de mesa, nas idas e vindas para a Quinta do Cruzeiro, fluam, e escoem a carga, com mais facilidade. Permitirá que a futura plataforma rodoferroviária da Pampilhosa não traga problemas acrescidos a essa vila e provocará a construção de uma nova entrada para essa povoação.
Carlos Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, reagindo ao anúncio do primeiro-ministro, declarou à comunicação social que a ligação de Coimbra a Viseu, por estrada com perfil de auto-estrada será a “correcção de uma injustiça histórica”. Prepare-se quem reside no concelho da Mealhada, ou dele é natural, para acompanhar atentamente os tempos que se aproximam com a construção destas vias. Atenção necessária para que não se deixe descaracterizar o concelho — as localidades, a paisagem, a economia, os costumes, etc. Atenção para que não se percam oportunidades de crescimento económico e urbanístico e, acima de tudo, de desenvolvimento da qualidade de vida.
Editorial do Jornal da Mealhada de 5 de Março de 2008
2 comentários:
Esperemos que sim. Que as novas vias tragam mais dinâmica e progresso à nossa região e que estejamos preparados para aproveitar este novo trunfo asfaltado.
Meu caro Nuno, permita-me uma correcção. O EIA (estudo de impacto ambiental)do referido traçado só agora, depois da consulta publica, está em fase de aprovação.
Permita também que coloque a seguinte questão: Que condições de atractividade terá um município como Mortágua em relação aos dois grandes centros urbanos, Coimbra e Viseu, face aos centros urbanos de média dimensão que aparecem no percurso como por exemplo a Mealhada?
Talvez assim se explique porque é que C. Cabral tem a opinião que tem e outro(s) autarca(s) apesar de cair(em) no logro se ache(m) o(s) mais esperto(s) do mundo.
Convenhamos que ir de Mortágua ou S.ta Comba para Coimbra, passando pela Mealhada não é a mesma coisa que adoptar e construir um traçado rectilíneo, hoje ao alcance das tecnologias utilizadas na construção deste tipo de infra-estruturas.
Seguramente que se assim fosse o custo da relação distancia/tempo seria muito menor e o combate à interioridade seria efectivo.
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