quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

[1536.] Mercurii dies... o último editorial

Missão cumprida.

Até sempre.

A presente edição do Jornal da Mealhada, em vésperas do 27.º aniversário da publicação, é a última em que exerço as funções de director. Oito anos depois de ter aceite o desafio de dirigir a mais antiga publicação do concelho da Mealhada, sinto que cumpri a minha missão e é com muita satisfação e alegria que a dou por terminada e me dirijo aos seus leitores na primeira pessoa.
Os primeiros seis meses deste ano de 2012 foram, para mim, extraordinariamente dolorosos e exigentes na procura de uma solução económico-financeira que permitisse a subsistência de uma publicação que é, para mim, mais do que uma casa. Tenho a consciência de que fui criticado, censurado e, tantas vezes, ridicularizado por manter nos lábios a garantia de que o Jornal da Mealhada não iria acabar, iria “regressar”, iria resistir a um momento difícil que infelizmente está a destruir milhares de pequenas e médias empresas em toda a Europa. Não será falsa modéstia asseverar que a minha teimosia, aliada a uma forte convicção e esperança – quando mesmo no meu círculo mais próximo já não se acreditava –, confederada no apoio de Bruno Peres, da minha família, e, mais tarde, na aceitação da parte da Santa Casa da Misericórdia da Mealhada, e do seu provedor, permitiram que em 4 de julho de 2012, cento e oitenta e sete dias depois de termos anunciado a suspensão, o Jornal da Mealhada voltasse às bancas e os delatores tivessem de se reduzir ao embaraço de engolir o muito que expeliram. Ficaram, para trás, nessa altura, cento e oitenta e sete dias de grande esgotamento psicológico e emocional, mas, também aqui, a convicção da missão cumprida.
Ao longo de oito anos, procurei dirigir o Jornal da Mealhada com inteligência e imparcialidade. Nunca impus as minhas ideias ou idiossincrasias ideológicas aos leitores. Muitas coisas que não corroboro foram publicadas, ao abrigo do Direito à Opinião de cada um dos colaboradores e dos protagonistas, cumprindo a máxima de Voltaire: “Não gosto de nada do que diz, mas seria capaz de dar a vida para que continuasse a poder dizê-lo!”. Procurei, sem pôr em causa a herança, desenvolver, procurei inovar, procurei ir mais além no serviço público de informar, intervir e dar opinião na comunidade em que o Jornal da Mealhada, há 27 anos, se insere. Não terei conseguido totalmente, não terei conseguido sempre, mas acredito que a minha missão foi amplamente cumprida.
Não é um momento de despedida, até porque continuarei a colaborar com o Jornal da Mealhada, que foi a casa onde desde os meus oito anos – desde logo com a paciência do professor Armindo Pega – aprendi a ler, a escrever, a contar, a manusear um computador, a colar etiquetas, a gostar de jornais, a conhecer o mundo e, principalmente, a comunidade que me comprometi servir. Nos primeiros meses em que dirigi o Jornal da Mealhada, era recorrente dizer que nem me parecia justo receber remuneração para fazer algo que me dava muito prazer. Nos últimos quarenta meses, quando a remuneração não existia, continuei com a mesma alegria e prazer, até à inevitabilidade da paragem.
Neste fim de ciclo, cumpre-me agradecer. Um primeiro agradecimento para Isabel Canilho – que soube ser colaboradora sem deixar de ser mãe –, para Afonso Simões – que foi sempre inexcedivelmente solidário e amigo –, para Mónica Sofia Lopes – que foi de uma dedicação e resistência inauditas –, e, de modo muito especial, para Bruno Peres – que conseguiu sempre ser cúmplice, especialmente nos maus momentos. Um agradecimento especial, também, para os sócios da empresa JM – Jornal da Mealhada, Lda, que nunca deixaram de dar apoio ao director, e especialmente aos gerentes que comigo trabalharam – César Carvalheira, Hélder Xabregas, António Lucas, Edmundo Carvalho, Carla Carvalheira e João Pega – que foram sempre solidários e nunca admitiram que faltasse fosse o que fosse aos que ao Jornal dedicavam o seu esforço. Não menos importante, o agradecimento a todos os colaboradores que escreveram, deram opinião, análise e trabalho, tornando este jornal numa publicação de referência. E a todos os protagonistas desta comunidade – autarcas, dirigentes, entre outros – que sempre trataram o Jornal da Mealhada com respeito e sentido de colaboração.
Os últimos agradecimentos ficam para a Santa Casa da Misericórdia da Mealhada, para os leitores, e especialmente aos assinantes, e aos anunciantes, pela confiança, e para os dois maiores responsáveis pelo sucesso desta demanda: Abílio Duarte Simões e Manuel Almeida dos Santos. Estejam onde estiverem, aceitem o meu humilde obrigado pelos ensinamentos, pela solidariedade, pela cumplicidade, pela paciência, e pelo enorme sacrifício.
Ao professor Braga da Cruz, que me sucederá nesta missão, tornando-se o oitavo director do Jornal da Mealhada, fica a minha disponibilidade para colaborar e ajudar no que considerar necessário e os votos de grande felicidade – pelo menos tão grande como a minha.                                                               

Até sempre.

Editorial do Jornal da Mealhada de 5 de dezembro de 2012

Sem comentários: